Apatia com simpatia
Diariamente vemos casos de atrocidades cometidas contra inocentes. Garota de 5 anos jogada do 6º andar, mais de uma adolescente presa em cela junto de outros detentos do sexo oposto e de significativa diferença de idade, dentre outros tantos casos. Há uma certa comoção, mas ela é ordinária. O que nos faz andar lado a lado com o mal e vermos tal fato com naturalidade é o fato de só certos casos isolados receberem esse destaque, focando apenas em um incidente e esquecendo de todo o resto.
No Brasil ainda existe escravidão - ela foi abolida em 1888, mas só em papéis. Percorrendo partes mais ermas do nosso vasto território não é difícil encontrar pessoas submetidas a esse regime degradante. 120 anos e muita coisa ainda permanece igual a cinco séculos atrás. Isso ainda sem contar os trabalhadores que, apesar de serem escravos propriamente ditos, são submetidos a condições desumanas, vindo até a morrer, às vezes, e recebendo salários infinitamente baixos e completamente incondizentes com os seus esforços, constituindo-se em pura exploração. Ninguém ao menos se lembra deles, quem dirá se esforça para reverter o quadro.
Além disso podemos citar o clássico caso dos nossos políticos corruptos. Votamos sob a máxima de que "aquele lá rouba, mas pelo menos faz". Temos governantes que, ao custo do nosso suor, fazem parte das classes mais favorecidas do nosso país desigual. Deputados que sequer dão-se ao trabalho de exercer sua tarefa de votar as respectivas pautas. Porém pior que isso é que não vemos ninguém se mobilizando a fim de obter melhores opções nas próximas eleições, a fim de uma maior transparência, a fim de fazê-los cumprir seu trabalho. Não. É mais fácil assistir ao espetáculo circense de seu sofá.
Resumindo tudo: não adianta o brasileiro não se dizer apático ao mal, porque ele já está aqui há tanto tempo sem que ninguém fizesse algo que já criou raízes profundas. Estamos, sim, acostumados a ver cenas trágicas, porque elas não surtem o efeito que deveriam, especialmente nos últimos dias. De nada vale se mobilizar quanto a Isabela se diariamente há outras tantas outras situações pungentes ainda piores.
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